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OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA BACIA DO CORUMBATAÍ - SÉCULOS XVIII A XX

LILIANA BUENO DOS REIS GARCIA
Profa. Adjunta Aposentada junto ao IGCE/UNESP – Instituto de Geociências e Ciências Exatas
e-mail: lb-garcia@uol.com.br

1 - INTRODUÇÃO

A bacia do Corumbataí, localizada na porção centro-leste do Estado de São Paulo, possuindo a maior parte de suas terras na Depressão Periférica Paulista, abrange os Municípios de Analândia, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Santa Gertrudes, que compõem parte da região administrativa de Rio Claro.

As primeiras notícias que se tem sobre essa região remontam aos princípios do século XVIII quando por aqui passavam forasteiros e viajantes que se embrenhavam rumo ao sertão desconhecido. No entanto, o povoamento e a ocupação só vai se efetivar com a expansão das fazendas de criação de gado e o desenvolvimento de uma lavoura canavieira que passa a progredir, no final do século XVIII. Porém, o café vai ser o principal agente responsável pelo intenso povoamento e o progresso dessas terras até então pouco habitadas, tornando a região próspera e dinâmica.

Também o café vai ser o responsável pela decadência econômica que atingiu a área no início do presente século, prolongando-se por várias décadas. Em conseqüência, as crises que se sucedem ao apogeu do chamado "ouro verde" vão tornar a região em estudo dominada por atividades agro-pastoris e pela agricultura de subsistência.

2 - OS PRIMÓRDIOS DA OCUPAÇÃO E COLONIZAÇÃO - SÉCULO XVII

Até princípios do século XVIII, os primitivos habitantes dessa região habitavam até um pouco além da atual cidade de Rio Claro. Por essa época, a população europeizada da capitania de São Paulo não ultrapassava os 50 mil habitantes. Apenas nove núcleos de povoamento desenvolviam-se nas bordas do platô, incluindo a capital. Era portanto uma região vasta, de solo fértil e clima temperado a ser ainda explorada. (Dean, 1977:20)

A descoberta do ouro na região de Mato Grosso, por volta de 1718, vai acelerar a ocupação dessa área, pois à fim de atingir as regiões recém-descobertas, os paulistas seguiam pelo rio Tietê até a bacia do Paraná, navegando em grandes comboios. Muitos, à fim de evitar as febres dos pântanos, seguiam por terra, desde a cachoeira do rio Piracicaba, através de elevações suaves. A cerca de 30 km. ao norte, os viajantes encontravam uma série de escarpas que marcavam o início de outro degrau do planalto. Ao norte e oeste os penhascos apresentavam dificuldades para serem transpostos, mas no meio havia uma passagem mais baixa e erodida, com poucas elevações, que recebia o nome de Morro Guarita e Morro Pelado. Nesse local, um caminho foi aberto entre 1719 e 1727, depois abandonado e reaberto entre 1765 e 1775. (Dean, 1977:21)

Os tropeiros que demandavam essa região precisavam de suprimentos. Desta demanda surge um incipiente comércio de gêneros de primeira necessidade que, lentamente vai progredindo. Sendo assim, a região passa a ser vista como “boca de sertão”, sendo que logo após o povoado abria-se o sertão de Araraquara ainda inexplorado.

Segundo testemunhos de viajantes que por aqui passaram no século XVIII, as povoações eram pequenas, compostas de alguns casais de índios e poucos brancos, vivendo na pobreza, em pequenos casebres, sendo que a floresta virgem ainda inexplorada, crescia entre um povoado e outro.

Por todo o século XVIII essa região vai ficar conhecida como o “Sertão do Morro Azul” e permanecer apenas como um caminho para aqueles que procuravam outras paragens.

3 - A EFETIVA OCUPAÇÃO E COLONIZAÇÃO - SÉCULO XIX

O impulso definitivo ao desenvolvimento dessa região vai ser dado através da doação de sesmarias. Entre 1817 e 1821 observa-se uma grande concentração na concessão de sesmarias, demonstrando que esta é a fase mais representativa do povoamento efetivo dos “Sertões do Morro Azul”. (Diniz, 1973:10) As doações vão dando forma portanto, aos povoados e à própria região.
A primeira doação feita na região foi na área de Rio Claro, para José Ignácio Ribeiro Pereira. Seguiram-se outras doações porém, todas a pessoas abastadas. Desta forma, os primeiros moradores ficaram relegados a uma posição acentuadamente marginal. (Dean, 1977:31)

Em 3 de março de 1821 foi doada a Francisco da Costa Alves, nos “Sertões do Morro Azul”, uma enorme gleba de terras, denominada “Sesmaria do Rio Corumbataí”. Esta tinha início nas nascentes do Córrego da Servidão (atual cidade de Rio Claro) e estendia-se na direção norte, acompanhando o Rio Corumbataí. Englobava todas as terras de suas margens - esquerda e direita - até a Serra do Morro Grande, abrangendo ainda as áreas das serras da Boa Vista e Monte Alegre e as zonas hoje ocupadas com o Bairro do Sobrado e o Distrito de Ferraz. Aí teria origem o atual Município de Corumbataí. Em dezembro de 1826, Costa Alves organizou, com os filhos Manoel e Domingos José, expedição para tomar posse do patrimônio. Com eles veio o padre Delfim da Silva, o mesmo que rezou no local a primeira missa junto à imagem de São João Batista, nome que foi dado à fazenda sede da família. Com a morte do patriarca, em 1844, à herança foi dividida. O filho Domingos José desmembrou a fazenda São José do Corumbataí. Em seguida o patrimônio foi sucessivamente dividido entre herdeiros e vendido para a formação de novas fazendas (Jornal Regional, 1993:2).

A cidade de Corumbataí começou a surgir quando imigrantes decidiram formar um povoado ao redor da fazenda São José do Corumbataí. Eram italianos, espanhóis e russos que compraram terras, trouxeram técnicas de plantio e de construção civil, desenvolvendo o vilarejo através da prática do comércio. A Companhia de Estradas de Ferro teve também grande participação no desenvolvimento da cidade, quando em 1883, inaugura duas estações, uma em Ferraz e a outra na fazenda São José do Corumbataí. Com isto, cresce a concentração populacional. Corumbataí tornou-se distrito de Rio Claro em 1919 e em 24 de dezembro de 1948 torna-se município pela lei 233.

Também o atual Município de Santa Gertrudes, teve origem na sesmaria do Morro Azul, em 18 de junho de 1821, quando o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão e sua esposa D. Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, adquiriram no local uma gleba de terras denominada Laranja Azeda. Em 1848, essa gleba fica por herança, para o filho do Brigadeiro, o Barão de São João de Rio Claro, senhor Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, em virtude da morte de sua mãe, D. Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda. Nesse local é formada a fazenda Santa Gertrudes de onde tem início o desenvolvimento de uma povoação. (Santos, 1988:106).

Em 27 de dezembro de 1916 o distrito de Paz de Santa Gertrudes foi incorporado a Rio Claro e instalado a 29 de setembro de 1918, no governo estadual de Altino Arantes, e, em 24 de dezembro de 1948 desmembra-se de Rio Claro para constituir-se o município de Santa Gertrudes.

O município de Itirapina corresponde a uma antiga povoação situada no termo da vila de São João do Rio Claro. Os registros sobre aqueles primeiros momentos contam que em 1833 já havia um núcleo da povoação na serra do Itaqueri, com poucas casas e uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. (Jornal Regional, 1991:3).

Itirapina, tradução de Morro Pelado em linguagem indígena, passou a ser a denominação oficial a partir de 28 de setembro de 1900. A legalização das terra onde formou-se o distrito de Itirapina foi definida em 1913 pelo prefeito de Rio Claro, Marcelo Schimidt. Em 1925 Itirapina deixou de ser distrito para ser elevado a categoria de município. Dez anos depois, em 1935, por decreto do interventor de São Paulo, Armando Salles de Oliveira, Itirapina tornou-se município autônomo. (Jornal Regional, 1991:3).

A légua e meia a oeste do povoado de São João do Rio Claro, às margens de um rio ainda sem nome, tem início um aglomerado de casas conhecido por Santa Cruz das Invernadas, em terras pertencentes a Vicente Barbosa. Em 1890, Vicente Barbosa doa uma área de seis alqueires, onde foi construída uma capelinha em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, padroeira da povoação. Assim, ao redor do patrimônio tem início a formação de Ipeúna. Através da Lei número 8.092 de fevereiro, publicada no Diário Oficial de 29 de fevereiro de 1964, Ipeúna foi elevada de Distrito a categoria de Município.

Em 1887, Manoel Vicente Lisboa, proprietário da fazenda Santa Maria da Glória, doou à Câmara Municipal vinte alqueires de terras em um local de meio declive, cercado por diversos rios, para a formação do patrimônio de um povoado. O processo foi oficializado em 17 de março de 1893. É nesse local, construída uma capela sob a invocação de Santana, padroeira da povoação.

A 17 de dezembro de 1890, apenas três anos após a construção da Capela, o povoado que era até então conhecido pelo nome de Cuscuzeiro, denominação essa oriunda do Pico que está situado em uma colina que ficava na propriedade do Barão de Araraquara, foi elevado à distrito de Paz, já como nome de Anápolis. Sua emancipação foi uma consequência imediata, o que aconteceu em 21 de junho de 1897. E em 30 de novembro de 1914 sua denominação passa a ser Analândia.

Inúmeras doações vão concretizando o povoamento dos “Sertões do Morro Azul”. As povoações vão se constituindo tomando forma e se desenvolvendo. Desde o início, geográfica e economicamente a povoação de Rio Claro vai ganhando destaque sobre as demais.

Em 1830, Rio Claro desmembra-se da povoação de Constituição, atual Piracicaba e já contava com dois mil habitantes. Já havia sido construída uma igreja e o lugarejo era elevado à paróquia, designação que tinha implicações não apenas religiosas como também administrativas. Os fazendeiros organizaram uma “Sociedade do Bem Comum”, com objetivos de orientar o governo local. Com isto fica marcante que desde os seus primeiros passos de desenvolvimento, as decisões ficam retidas nas mãos dos fazendeiros locais.

Em 1845 Rio Claro passou de vila para cidade o que lhe trouxe um pouco mais de autonomia. Gradativamente a região vai se tornando “frente pioneira” e se integrando à economia capitalista, voltada à exportação. Esse avanço não significou a eliminação dos pequenos proprietários, pois estes, passaram a desempenhar papéis subalternos e dependentes dentro desse novo contexto.

O fluxo populacional era rápido e corria em direção ao interior despovoado e, os novos sesmeiros na ânsia de tomar conta dos melhores solos, empurravam os caboclos para o sertão desconhecido.

O grande avanço na região vai ser dado pela introdução da cultura da cana, já nas primeiras décadas do século XIX. Esta vem promover o efetivo povoamento da mesma.

A cultura da cana fora encorajada pelas autoridades reais já por volta de 1750, principalmente na região de Itú. Nas duas décadas seguintes estendera seu cultivo para a região de Campinas. Toda a produção e inclusive os serviços domésticos nas fazendas, eram realizados por escravos. Segundo Dean, mais de 30% da população de Rio Claro era composta por escravos. Até a abolição não havia lavouras de homens livres no município, todos dependiam em larga medida e constantemente do trabalho servil, afim de manter a produção. (Dean, 1977:61).

Em 1822, 32,1% da população do município era composta por escravos. No entanto, essa porcentagem foi decrescendo, chegando a ser menos de 15% em 1887.

De Campinas, a cana passa a ser cultivada na região de Piracicaba e em 1816 havia ali 18 engenhos e mais 12 estavam sendo construídos.

No ano de 1822, a região de Rio Claro já contava com 8 engenhos, sendo que mais 3 estavam sendo construídos. Nas lavouras da região cultivou-se a cana nas três primeiras décadas do século XIX. A maioria dos proprietários e sesmeiros eram da região de Itú e Campinas.

No entanto, a cultura da cana não vai perdurar por muito tempo, demonstrando que para a região em estudo as suas perspectivas do ponto de vista econômico não eram muito promissoras, porém, agiu como um importante fator de povoamento e colonização, impulsionando o desenvolvimento do pequeno povoado.

A cana avançou na direção de Itú, Parnaíba e Piracicaba, enquanto Campinas e a região de Rio Claro vão gradativamente cedendo ao cultivo do café que se mostrava muito mais promissor.

A expansão da cultura do café a partir da década de 1850, veio dinamizar o povoamento e serviu também para acarretar profundas mudanças nas relações de trabalho, principalmente se considerarmos o largo emprego do trabalhador imigrante europeu, em substituição ao braço escravo. Também contribuiu para a introdução do regime de parceria que mais tarde muito contribuiria para a multiplicação da pequena propriedade e da pequena agricultura.

A cultura cafeeira vai substituir a cana, nas grandes propriedades por várias razões, entre elas, a demanda mundial de café se acentua a partir da primeira metade do século XIX, sobrepondo-se à do açúcar.

As ferrovias foram de extrema importância como suporte ao desenvolvimento da economia cafeeira na área estudada, pois o café aí produzido logo se apresentou com uma qualidade superior, alcançando maiores vantagens no mercado internacional, porém o custo de sua produção era altíssimo em função das longas distâncias que o separavam do porto de Santos. Também a precariedade dos meios de transportes punha em risco a produção. Este era efetuado em lombo de mulas, o que consumia tempo e perda do produto, onerando em muito o seu comércio.

As estradas de ferro significativamente representaram a organização capitalista da produção cafeeira, pois se expandiram para servir o complexo cafeeiro, ao mesmo tempo em que se beneficiaram dos excedentes de capital por ele gerado e serviu para integrar a região de Rio Claro dentro de relações capitalistas de produção.

É importante ressaltar que o surto ferroviário não ocorreu paralelo à cafeicultura, mas foi gestado no interior da própria economia cafeeira.

A ferrovia chega a Rio Claro em 11 de agosto de 1876 quando os trilhos da Companhia Paulista de Estrada de Ferro estendem-se além de Campinas.

Com a ferrovia vários lugarejos ganham prosperidade. Em 1 de junho de 1885 a Companhia Paulista de Estrada de Ferro inaugura a Estação do Morro Pelado, localizada próximo ao acidente geográfico de igual nome. Ao lado, desenvolvia-se a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Itaqueri - atual Itirapina. Este prospera com a chegada da ferrovia.

Ao estender seus trilhos pelo Vale do Rio Corumbataí, em direção à cidade de São Carlos do Pinhal, inaugurou a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em 1883, nas terras da antiga sesmaria dos Costa Alves, duas estações ferroviárias. Uma denominada Ferraz na fazenda do Sr. João Batista Ferraz, e outra, com o nome de Corumbataí, nas proximidades da sede da Fazenda São José. Este acontecimento leva moradores e pequenos comerciantes a fixarem-se próximo das estações, dando início à formação de pequenos povoados.

O fato da Paulista não estender seus trilhos até Ajapi e Analândia, levou o conde de Pinhal a organizar uma companhia própria, a Companhia Rio Claro, que além da sua participação contou com o apoio de muitos fazendeiros da região. Essa linha foi inaugurada em 1881. Porém, a falta do interesse do Conde de Pinhal, em operar essa linha, levou-o a vendê-la a uma Companhia Britânica que a revendeu à Companhia Paulista dois anos mais tarde. Sem dúvida alguma, a Companhia Rio Claro constituiu-se no maior empreendimento realizado por fazendeiros de Rio Claro e deixa patente o grau de desenvolvimento atingido pela região e seu conseqüente poderio econômico.

Na região, o café, permaneceu como a principal cultura de 1850 a 1930. Em 1854 foram colhidos mais de mil toneladas, e em 1901 atingiu-seo apogeu da produção com quase 15 mil toneladas.

Por volta de 1870 com o café já implantado na região, o efeito urbanizador começa a ser sentido. As fazendas existentes eram quase auto-suficientes no que diz respeito à alimentação, materiais de construção, animais de tração e alguns artefatos. Porém não eram autônomas pois satisfaziam parte de suas necessidades na cidade. O algodão embora fosse tecido por escravos não supria a demanda que já se satisfazia com a compra de produtos ingleses por jardas. Já a fabricação de tijolos e materiais afins, localizada nas fazendas, aproveitando as jazidas de cal e argila, possuía uma demanda razoável para sua expansão. Além das olarias, as propriedades rurais possuíam com freqüência moinhos e serrarias movidos por energia hidráulica ou a vapor, que por sua vez, também supriam a cidade. Esta também fornecia às fazendas, produtos manufaturados como arreios, carroças, trabalhos de carpintaria e ferro batido. Os principais fornecedores de carne de porco consumida nas fazendas, eram os pequenos produtores rurais. Vendiam também, com menor regularidade, milho para as fazendas. (Hogan, 1986:15)

Desta forma inicia-se uma dependência campo/cidade. Mesmo tendo sua economia voltada para o café, a interdependência entre as relações rurais, urbanas já iniciam um processo de sistematização.

Ao tornar-se “ponta de trilho” e permanecer nesta condição até 1884, Rio Claro realmente ampliou sua influência sobre vasta área, abrangendo toda a região compreendida pela bacia do Corumbataí e também na condição de “terminal ferroviário”, não só concentrou toda a produção das regiões mais interioranas, como reforçou o seu papel como centro do comércio no fornecimento e suprimento às atividades desenvolvidas em toda a região.

A expansão ferroviária levou a inúmeras transformações na paisagem urbana, constituindo a chegada dos trilhos um marco na história das cidades. Com a estrada de ferro, veio todo o aparelhamento que ela exigia, principalmente quando a cidade, por alguma razão, passava a ser sede de qualquer atividade especial, como, por exemplo, armazéns, oficinas de reparos e construção de carros, escritórios, ponto de cruzamento de trens, local de baldeação, etc. Estes fatores refletiam na vida da cidade, que constituía mercado de trabalho e estimulava ao mesmo tempo uma série de atividades correlatas. Muitas cidades chegaram a depender muito tempo da ferrovia, como foi o caso de Rio Claro que, durante anos, viveu praticamente em função da oficina da Companhia Paulista ali instalada. (Matos, 1974:120)

Junto com a chegada da ferrovia, deu-se também a ampliação e a diversificação de inúmeras atividades em Rio Claro. Instalaram-se serrarias, cerâmicas, fábricas de cerveja, inúmeras beneficiadoras de grãos - café e arroz - e armazéns para atender ao aumento da demanda de grande contingente de imigrantes, sobretudo italianos, espanhóis, portugueses e alemães, que se instalaram tanto na zona rural como na urbana. Representou a expansão do comércio local e um progressivo processo de desenvolvimento que começou a sofrer um declínio a partir da primeira década do século XX.

Portanto, as cidades da bacia do Corumbataí que passaram a ser servidas pela Paulista, foram cidades que cresceram com o café. A ferrovia serviu ainda mais para implementar o núcleo urbano com a vinda de trabalhadores imigrantes sobretudo italianos, espanhóis, portugueses e alemães. Rio Claro também aí se enquadrou, pois seu crescimento populacional foi acelerado.

4 - O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO CORUMBATAÍ - SÉCULO XX

4.1 - O Desenvolvimento da Indústria

Nas três primeiras décadas do século XX, o café vai gradativamente perdendo a sua importância na área ocupada pelos Municípios da Bacia do Corumbataí. Vários foram os motivos entre eles, de ordem interna - a superprodução - e externa - a crise do próprio sistema capitalista - deixando assim de ser o sustentáculo econômico da área estudada.

A agricultura cafeeira é vista como um estímulo à industrialização, pois vem dar origem aos elementos vitais do desenvolvimento industrial paulista. O capital gerado pela economia cafeeira estimulou as inversões nos setores urbanos, ou seja, no comércio e na industrialização. Essa relação também se faz presente na área em estudo, sobretudo no município de Rio Claro porém não com tanta intensidade. Há um desenvolvimento industrial até certo ponto significativo. Chega a refletir uma característica geral do estado de São Paulo, no entanto vai apresentar suas peculiaridades.

O Desenvolvimento Industrial estimulado pelo capital gerado pela cafeicultura está centrado na região estudada, nas industrias de bens de consumo e nas pequenas indústrias manufatureiras artesanais.

Vê-se desta forma que o capital industrial em Rio Claro, no início de sua industrialização, segundo (Sampaio, 1987:20), segue em parte a tendência do Estado. Atuaram a nível local, a burguesia cafeeira, os agentes de importação e exportação, o imigrante estrangeiro, entendido não como investidor, mas como simples trabalhador ou como pequeno capitalista.

Neste aspecto, destaque deve ser dado ao papel do imigrante. Na grande maioria das vezes, com recursos próprios fundaram pequenas fabriquetas de fundo de quintal, produzindo mercadorias demandadas pela população.

As pequenas indústrias, mais especificamente as manufaturas, elementos iniciais do desenvolvimento capitalista europeu, não antecedem a grande indústria, mas surgem concomitante a ela, desenvolvendo-se paralelamente, marcando desta forma o caráter peculiar e específico do processo de desenvolvimento capitalista industrial do Estado de São Paulo e da região estudada.

No início do século, a cidade de Rio Claro já era iluminada a lâmpadas de arco voltaico e já possuía uma rede telefônica. Destacavam-se oficinas para a construção de carruagem, selarias, olarias, serrarias, uma fábrica de calçados, algumas tipografias, oficinas mecânicas e de fundição. Pequenas indústrias produziam massas, sabão, vinagre, colchões, chapéus de palha, charutos, etc. e uma grande cervejaria vendia cerca de 600 mil litros de bebida para todo o estado. (Dean, 1977:155,156). São essas pequenas indústrias que vão manter as atividades urbanas em Rio Claro, no início do século, com a crise que passa a ocorrer no setor cafeeiro. Rio Claro adentra pois, ao século XX, com um número muito reduzido de unidades industriais e assim permanece até por volta da década de 1940. As causas desse retardo segundo (Sampaio, 1977:21) foram várias. Entre elas podemos citar: a pequena acumulação de capital, principalmente porque a maior parte dos lucros advindos do café não foram investidos na cidade e também a prolongada dependência creditícia para a capital, pois o primeirobanco só se instalou em Rio Claro por volta de 1926. Além desses fatores, podemos destacar também o fato de que a burguesia cafeeira não residia na cidade, o que desestimulava o investimento de capital na mesma.

Após 1930, Rio Claro vai se caracterizar por uma fase de pequena expansão industrial. As causas determinantes dessa situação vão ser segundo (Sampaio, 1987: 34,36) a pequena capacidade de acumulação de capital do município, característica esta que vem desde os primórdios do seu desenvolvimento, a tímida iniciativa empresarial local e as precárias condições de abastecimento de energia elétrica e água. Desta forma, Rio Claro não se beneficia do impulso industrial que vai ocorrer na capital e em algumas cidades do interior paulista.

O município de Rio Claro e demais municípios da bacia do Corumbataí não se beneficiaram desse surto industrial. Rio Claro entra num período de estagnação econômica que vai perdurar até a década de 1970. Inclusive observa-se um processo de diminuição da população. O período de 1920 a 1940 apresentou um lento aumento populacional, com uma média de 1,91% ao ano, para todo o interior do Estado de São Paulo, mas essa característica foi bastante acentuada para o município de Rio Claro. Sua população subiu de 50.416 habitantes em 1920 para apenas 55.972 de 1940, apresentando uma taxa anual média de crescimento de 0,52%.

Na década de 40 a agricultura vai sendo lentamente reorganizada com base na pequena produção e na policultura, sem atingir a antiga lucratividade, nem mesmo com a ascensão da produção canavieira na década de 50.

Essa situação de estagnação vai sofrer um processo de reversão na década de 70, quando a industrialização no município de Rio Claro se integra segundo (Sampaio, 1987:37) a processos que ocorrem a nível mundial, nacional e regional ou seja, a internacionalização do sistema industrial capitalista e também à desconcentração espacial da indústria em território paulista.

Os dados censitários mostram que no período 1970 - 1980, a indústria paulista teve um crescimento de 11,4% enquanto o interior de São Paulo cresceu a 15,8%. Isto demonstra o desempenho do interior quanto ao seu processo de industrialização, tornando-o um dos principais polos de desenvolvimento industrial do Brasil, suplantado apenas pela Região Metropolitana de São Paulo.

Rio Claro em 1970 contava com algumas destilarias e fábricas de cerveja - a Skoll - Caracu vai deixar de funcionar em 1992, fechando a sua unidade de Rio Claro. Outras empresas importantes do ramo São a Usina Sant’Ana de Açúcar e Álcool, e, na área de produtos químicos propriamente dito, os Laboratórios Paschoal, a ICI do Brasil e a Uniroyal. No entanto, durante a referida década, os setores de química e bebidas perdemmuito desua importância relativa.

O terceiro setor industrial em 1970, o de produtos alimentares, se manteve mais estável, com uma participação de 14 a 15% no emprego industrial e uma pequena queda no valor relativo da transformação industrial, de 17,7% em 1970, para 13,8% em 1980.

A indústria mecânica de Rio Claro ocupou um papel de destaque no município. Seu auge de importância foi na época em que Rio Claro tinha nas oficinas da Companhia Paulista de Estrada de Ferro uma importância significativa, tanto para a ferrovia como para a cidade. Era a indústria que maior número de empregos oferecia a Rio Claro, chegando aproximadamente nas décadas de 40 e 50 a empregar mais de 3.000 pessoas. É de se destacar também Rio Claro como um dos pioneiros núcleos de reflorestamento com eucaliptos, do país. Este era realizado no Horto Florestal da Companhia Paulista, que fornecia madeira para a construção dos carros e vagões em sua oficina. Desta atividade originou-se um setor de processamento de madeira - A Prema - Tintas e Preservação de Madeira S/A. - e a fabricação de móveis, que por toda a década de 80 mantém um certo destaque.

Hoje, o peso da indústria mecânica diminuiu. As oficinas da Companhia Paulista não mais se destacam como um setor de importância, pois, grande parte de suas atividades encontram-se paralizadas em virtude do próprio papel que vem ocupando a ferrovia no contexto do Estado de São Paulo e do país.

Um outro setor que já desempenhou papel de destaque nas atividades industriais do Município é o das indústrias de tecidos, vestuário e calçados que em 1970, empregavam conjuntamente 25,9% da força de trabalho industrial e produziam 16,8% do valor da transformação. Estas proporções caíram, durante a década, passando para 12,5 e 4,2% respectivamente.

Dois setores industriais que cresceram muito durante a década de 70 são a indústria de material de Transporte e especialmente a indústria de plásticos. A primeira representava apenas 2,0% do emprego e 1,6% do valor da transformação industrial em 1970, crescendo para 11,2 e 5,9% respectivamente em 1980, principalmente em função da instalação da fábrica de automóveis Gurgel. A indústria de materiais plásticos, inexistente no censo de 1970, foi praticamente criada durante a década de 80 e já era responsável por 9,2% do emprego e 16,4% do valor da transformação industrial do município em 1980. Destacam-se entre as maiores empresas do ramo a Ocfibras, Tigre e Multibrás (Brastemp e Brascabos). (Hakkert, 1985:50)

Hoje, o parque industrial rioclarense, continua a manter quase que a mesma estrutura das duas décadas passadas. Encontramos indústrias mecânicas, metalúrgicas, produtos alimentares, bebidas, produção de veículos e implementos rodoviários, embalagens plásticas, tubos e conexões, indústria química, confecções, calcários, indústrias de papel, mineração, beneficiamento de cereais, artefatos de madeira, artigos esportivos, instrumentos cirúrgicos, produtos cerâmicos, indústria gráfica e mobiliário entre outras.

Em recente pesquisa direta, Selingardi (2000) destaca que quanto ao número e ao porte dos estabelecimentos existentes, os ramos que mais se destacam são: vestuário, calçados e artefatos de tecidos com 165 estabelecimentos, metalurgia com 101 estabelecimentos, minerais não-metálicos com 82 estabelecimentos, produtos alimentares com 62 estabelecimentos e mobiliário com 35. Esses 5 ramos, somam um total de 445 estabelecimentos, de um total de 675 indústrias em julho de 1999, conforme dados do Cadastro da Prefeitura Municipal.

A atividade industrial em Rio Claro continua concentrada nos pequenos e médios estabelecimentos assim como, pelo reduzido número ou mesmo a inexistência de grandes unidades industriais.

“Das 675 existentes em 1999, apenas 13 empregavam mais de 200 pessoas e somente um ultrapassava o total de 1.000 empregados. Do total de indústrias, 53,25% pertenciam a microempresas locais ... das 20 maiores fábricas existentes, 4 são controladas por capitais estrangeiros e 7 por capitais nacionais externos ao município”. (Selingardi, 2000:9).

Desta forma a estrutura industrial de Rio Claro por estar baseada em estabelecimentos de pequeno e médio porte, demonstra grande fragilidade quanto à sua perspectiva de crescimento. Portanto Rio Claro como centro industrial pode ser hoje considerado de importância secundária, centrado nas pequenas e médias indústrias, apesar de apresentar inúmeras condições favoráveis ao desenvolvimento industrial, tais como: uma excelente posição geográfica, pois está localizada no centro econômico de maior dinamicidade do Estado de São Paulo; apresenta uma relativa proximidade da Capital do Estado, distando cerca de 170 km. da mesma; é servido por um complexo rodoviário (FEPASA, Rodovias Anhanguera e Washington Luís) e finalmente, apresenta um considerável contingente de mão-de-obra sobretudo se considerarmos Rio Claro um centro de atração de migrantes interestaduais (mineiros, paranaenses e nordestinos). Conclui-se que falta para Rio Claro, uma política mais efetiva de industrialização, cabendo aos órgãos competentes, criar mecanismos geradores de condições efetivas para Rio Claro sair dessa situação de estagnação quanto ao seu processo de desenvolvimento econômico.

Quanto aos demais Municípios da bacia do Corumbataí, a industrialização não é significante.

O município de Analândia contava em 1997 com 9 estabelecimentos industriais, Corumbataí com 19, Ipeúna com 18, Itirapina com 13 e Santa Gertrudes com 50 estabelecimentos industriais.

A concentração maior das atividades industriais ocorre em relação à extração de minerais, em decorrência das jazidas de calcários silicosos, argila e barro próprio para as olarias. Conseqüentemente, a indústria de extração e transformação de minerais não metálicos, principalmente cerâmicas, calcários e olarias, tem um papel tradicional na estrutura industrial dos mesmos, destacando-se principalmente Santa Gertrudes com a produção cerâmica (pisos esmaltados, lajotas e lajotões, tijolos e vasos).

Hoje, segundo Garcia (2000) o município de Santa Gertrudes forma com o município de Rio Claro, e mais Cordeirópolis, Limeira e Araras, um importante pólo cerâmico do Estado de São Paulo e do país.

As primeiras cerâmicas Buschinelli, São Joaquim, Santa Gertrudes, Almeida e Rocha começaram a se fixar em Santa Gertrudes quando ela ainda era uma pequena povoação, por volta dos anos 1918 a 1930, devido à abundância de argila na região. Fabricavam a princípio telhas paulistas e francesas, sendo que só mais tarde os primeiros lajotões coloniais começaram a ser produzidos (Garcia, 2000).

A partir de 1986, a produção de cerâmicas deu um salto em modernidade, deixando de lado os métodos de produção artesanal, para substituí-los pelo moderno sistema de monoqueima. Essa nova tecnologia igualou os pisos produzidos em Santa Gertrudes aos demais produzidos no país. Sua produção destina-se ao mercado interno e também à exportação para o Mercosul. O setor emprega diretamente 2.300 trabalhadores e gera aproximadamente 2.500 empregos indiretos, tendo uma produção mensal de 5.5 milhões de metros quadrados de pisos e revestimentos, produzidos por 17 cerâmicas (Garcia, 2000).

Quanto ao comércio, Rio Claro destaca-se com 1.232 estabelecimentos, sendo estes diversificados no sentido de atender a demanda da cidade e da região. Conta com um Shopping Center, grandes redes de supermercados e de lojas de calçados, confecções e eletrodomésticos.

Os demais municípios da bacia do Corumbataí apresentam um fraco desenvolvimento comercial sendo, 17 estabelecimentos de comércio em Analândia, 13 em Corumbataí, 12 em Ipeúna, 50 em Itirapina e 86 em Santa Gertrudes, conforme dados de 1997.

No que se refere a serviços, Analândia em 1997, contava com 12 estabelecimentos, Corumbataí com 9, Ipeúna com 15, Itirapina com 41, Rio Claro com 1.000 e Santa Gertrudes com 58.

Os dados acima refletem o desenvolvimento do setor comercial e de serviços deixando evidente o papel desempenhado pela cidade de Rio Claro, no contexto da bacia do Corumbataí.

Quanto à questão da infra-estrutura, relacionada ao fornecimento de água, podemos destacar que na década de 90 as cidades que compõem a bacia do Corumbataí, são atendidas com abastecimento de água, numa média que gira em torno de 93,18% município de Itirapina, 99,08% Analândia, 99,18% Corumbataí, 99,79% Ipeúna, 99,30% Rio Claro e 98,30% Santa Gertrudes.

Também em relação à infra-estrutura, a taxa de urbanização na década de 90 demonstra com exceção dos municípios de Analândia com 65,75% e Corumbataí com 45,27%, um elevado índice destacando Ipeúna com 80,97%, Itirapina 87,28%, Rio Claro 96,91% e Santa Gertrudes com 97,16%. Esses dados nos revelam o grau de qualidade de vida dessas populações e sobretudo da implementação dos equipamentos urbanos.

No que diz respeito ao nível da escolaridade, na década de 90, o município de Analândia apresentou uma taxa de 13,94% de analfabetismo da população adulta; Corumbataí, 14,88%; Ipeúna com 14,31%; Itirapina com 14,48%; Rio Claro com 7,76% e Santa Gertrudes com 13,02%.O número médio de anos de estudo do chefe do domicílio variou de 4,78% para Analândia, 4,20% para Corumbataí, 4,39% para Ipeúna, 4,79% para Itirapina, 6,73% para Rio Claro e 4,77% para Santa Gertrudes.

4.2 - O Desenvolvimento Agro-Pecuário

Além da pequena atividade industrial nos municípios de Corumbataí, Itirapina, Ipeúna, Santa Gertrudes e Analândia, a agricultura ocupa o seu espaço.

Na região, as atividades são voltadas à produção do feijão, do arroz, do algodão e do milho e atendem à demanda local desses bens. Destaque é dado à produção da cana-de-açúcar nos municípios de Analândia, Corumbataí, Santa Gertrudes, Itirapina e Ipeúna, pois a mesma atende a demanda das usinas açucareiras de regiões próximas. O café, a base do surgimento e desenvolvimento desses municípios, hoje é praticamente inexpressivo sendo seu cultivo em pequena escala em Analândia, Itirapina e Corumbataí.

Esse quadro atual deriva da falta de financiamento e incentivos por parte do governo federal.

O desempenho agrícola dos Municípios estudados é fraco, restringindo a produção aos mercados locais. Um dos aspectos mais evidentes dos mesmos é a diminuição da população rural, em virtude da fuga da mesma para centros maiores.

Os dados do censo demográfico de 1996, deixam evidente essa situação: o município de Analândia contava nesse momento com um total de 3.446 habitantes, com uma população urbana de 2.210 habitantes e 1.236 habitantes na área rural; o município de Corumbataí com uma população de 3.530 habitantes sendo 1.531 a população urbana e 1.999 a população rural; o município de Ipeúna com 3.341 habitantes, sendo 2.674 a população urbana e 667 a população rural; o município de Itirapina com 11.024 habitantes , sendo 9.521 a população urbana e 1.503 a população rural; o município de Santa Gertrudes com uma população de 13.605 habitantes sendo 13.206 a população urbana e 399 a população rural; o município de Rio Claro com uma população de 153.389 habitantes, sendo 148.628 habitantes concentrados na zona urbana e 4.761 na zona rural.

Convém destacar que a diminuição da população rural em detrimento do predomínio da urbana, acompanha na área estudada, uma tendência a nível mundial que começa a se acentuar a partir da década de 1970.

Quanto ao Município de Rio Claro, a produção agrícola se faz através de vários produtos. O Café, a base inicial do seu desenvolvimento, cumpre hoje um papel modesto. Sua importância econômica atualmente é secundária em comparação com a cana-de-açúcar que já começa a ser cultivada na década de 50, ocupando 25% da área total das lavouras. A cultura canavieira vem tomar o lugar de outras culturas de maior importância no período 50/60, no conjunto da agricultura de Rio Claro.

Em 1970 a área cultivada com café diminuiu em mais de 60%, tendência essa que vai perdurar em 1980, ao passo que a citricultura teve sua área dobrada. Em 1980 a área ocupada pela citricultura era de 1.618 ha. com uma produção de 99.047 mil frutos.

A partir de 1970 o algodão tem sua área cultivada dobrada; o arroz e o feijão tem sua área diminuida em 50%. A cultura do milho, vai permanecer estável, com 30% da área total das lavouras. A cana-de-açúcar também tem sua área cultivada dobrada.

Quanto à estrutura agrária, Rio Claro, retrata bem a realidade agrária brasileira. Apresenta uma forma muito desigual no que se refere a distribuição da terra pelos estabelecimentos agropecuários do município. Em 1950 quase 85% do total do número de estabelecimentos possuíam menos de 100 hectares e ocupavam menos de 35% da área agrícola. Já, os grandes estabelecimentos com mais de 1.000 hectares, concentravam 23,93% da área e, no entanto, não chegavam a 1% do número de estabelecimentos. Cabia nos médios a maior parcela da área, cerca de 41% do total. (Zanelato, 1992: 32).

Já, nos anos 60, os pequenos estabelecimentos tiveram um aumento de 16,11% em sua área, os grandes, no entanto, tiveram a manutenção de sua área, enquanto os médios estabelecimentos sofreram uma perda de 15,34% em sua área toral. O aumento dos pequenos estabelecimentos explica-se pelo fato dos mesmos serem responsáveis pela produção de gêneros alimentícios, destinados à área urbana em crescimento.

Essa situação perdura durante a década de 70, vindo a sofrer modificações na década de 80, quando o número dos pequenos estabelecimentos caiu quase 5% e sua área em relação à área total dos estabelecimentos agrícolas, teve uma diminuição na ordem de 13,08%, o que levou a um pequeno aumento de 25,56% hectares, em sua média, enquanto as outras duas categorias tiveram sua área aumentadas: os médios estabelecimentos, de 23,93 para 33,06%, e os grandes, de 21,33 para 24,74% do total da área agrícola do município. O mesmo ocorreu com suas áreas médias, um aumento de 6,30% para os médios e de 26,49% para os grandes, nesse mesmo período, de 1970 para 1980 (Zanelatto, 1992: 26 a 30).

Os dados sobre a estrutura agrária no período 80/85,nos mostram que em 1980, 81,2% dos estabelecimentos agrícolas com áreas de 10 a 100 ha. ocupavam 40,92% do total da área agrícola do município. Em 1985, há nesse mesmo grupo de áreas, um aumento no número de estabelecimentos, de 433 em 1980, para 50,4 em 1985. Estes passam a ocupar 43,99% do total da área agrícola do município. (Plano Diretor do Município de Rio Claro, 1991: 14)

A laranja é outra cultura responsável pela produção agrícola do município. Enquanto a lavoura canavieira ocupava 31,42% da área agrícola do município em 1987, com uma produção média de 80 toneladas por ha/ano, a laranja vai ser responsável por 47,06% do valor da produção agrícola municipal, ocupando 6,12% da área agrícola.(Plano Diretor do Município de Rio Claro, 1991:22).

Já a produção de produtos para a subsistência tem sido feita por pequenos produtores, sendo os principais: o arroz, o feijão, o milho, porém, gradativamente vem perdendo área para o cultivo da cana-de-açúcar. Portanto, o peso maior da produção agrícola do município de Rio Claro está hoje - década de 1990 - na cana-de-açúcar e na citricultura.

Além dessas atividades a pecuária tem um certo destaque na área de Rio Claro, principalmente a criação de cavalos e de gado leiteiro, bem como, as granjas avícolas.

Como pode-se notar, até 1975, as áreas de pastagens no Município de Rio Claro, sempre tiveram um papel de destaque.

Na região, os pequenos produtores de leite tem sua produção encaminhada para os Laticínios, para as indústrias de transformação (empresas de capital misto, por exemplo, Laticínios Poços de Caldas com a Gervais Danone, a Mococa associada à Parmalat) e também, para as indústrias produtoras de ração (SANBRA, BAYER DO BRASIL, ANDERSON-CLAYTON, etc.).(Plano Diretor do Município de Rio Claro, 1991:32).

Já a avicultura difere da produção pecuária bovino e de leite. Seu processo produtivo encontra-se subjugado às indústrias de ração (Sadia, Ralston, Purina, Cargill, etc.) que fornecem aos proprietários dos galpões, o pintinho e a ração, além de outras assistências. A criação fica por conta do produtor para em seguida entregar os frangos a essas indústrias recebendo pelos mesmos 10% do preço de mercado.

Em Rio Claro destaca-se o abatedouro FRICOCK Ltda., com capacidade para abater por dia, 20.000 cabeças de frango. Além da FRICOCK, encontramos pequenas granjas e a granja IPÊ.

A avicultura produziu 3,25 milhões de ovos em 1980, num total de 1,5 milhões de aves, enquanto que a apicultura, outra atividade de destaque no município teve uma produção de 73 toneladas de mel e cera de abelha com um valor total de Cr$ 11,3 milhões.

O número de estabelecimentos agrícolas em Rio Claro diminuiu de 1071 em 1970 para 622 em 1980, enquanto o tamanho médio das propriedades aumentam de 43,57 ha. para 61,52 ha.

Também em Rio Claro, houve um ligeiro aumento nos índices de desigualdade na distribuição de terras, o que vem indicar a permanência de uma agricultura tradicional baseada em estabelecimento menores, ao lado da expansão agro-industrial. (Hakkert,1985:47).

A seguir, pela Tabela 2 destacamos uma estimativa de crescimento populacional para os municípios da Bacia de Corumbataí.

Tabela 2 – População estabelecida e estimada na sub-bacia do Rio Corumbataí na década de 90.

Municípios
População Urbana
1990 % 2000 % 2010
Analândia 1.572 21 1.236 21 1.248
Charqueada 9.976 6 10.614 10 10.972
Corumbataí 1.560 23 1.915 47 2.294
Ipeúna 1.856 18 1.525 15 1.572
Piracicaba 281.819 23 347.857 45 409.636
Rio Claro 133.971 34 179.228 57 209.827
Santa Gertrudes 9.519 24 11.778 42 13.499
Total 440.273   554.153   649.048

(%) de variação do crescimento em relação a 1990.
Fonte: Bacia do Rio Piracicaba, Diretrizes para o Planejamento. Rel. 01 SMA/CPLA – Out/97 (Baseado nos censos do IBGE).

Esses dados nos permitem analisar e avaliar as diferentes etapas de ocupação e desenvolvimento dos municípios que integram hoje a bacia do Corumbataí, assim como o seu desenvolvimento populacional para as próximas décadas revelando-nos a trajetória de seu processo de desenvolvimento sócio-econômico, inserido num contexto histórico-espacial.

A Tabela 3 apresenta, em porcentagem, o uso e ocupação das terras da bacia, a partir do mapa temático de Uso de Ocupação 2003, constante deste Atlas.

Uso e cobertura do solo
Área (ha)
Área (%)
Pastagem 72228,48
42,29
Cana-de-açúcar 47431,92

27,77
Floresta nativa 19234,84

11,26
Cerrado 1217,20

0,71
Floresta plantada 9713,84

5,69
Fruticultura 6848,81

4,01
Custura anual 1575,48

0,92
Mineração 323,92

0,19
Área Urbana 4937,72
2,89
Rede hidrográfica e malha viária 7263,40 4,25

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Desenvolvimento: Centro de Análise e Planejamento Ambiental- CEAPLA/IGCE/UNESP

Apoio: FAPESPFundação de Amparo à Pesquisa