DIVERSIDADE DE ANFÍBIOS ANUROS

DO ESTADO DE SÃO PAULO

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Justificativa do Projeto


 

Do começo até meados do século passado, os estudos sobre os anuros brasileiros apresentavam um enfoque essencialmente taxonômico (e.g., Miranda-Ribeiro, 1926; Cochran, 1955; B. Lutz, 1973). Bokermann (e.g., 1967) foi um dos pioneiros na utilização de análises bioacústicas das vocalizações dos anuros brasileiros e paulistas, abordagem que em muito contribuiu, e continua contribuindo, para uma melhor delimitação das fronteiras entre espécies e no reconhecimento de espécies crípticas (e.g., Haddad & Pombal, 1998). Atualmente, além dos trabalhos taxonômicos, estudos com enfoques ecológicos têm sido desenvolvidos em São Paulo, o que tem contribuído para um melhor entendimento da diversidade dos anfíbios no Estado (e.g., Cardoso et al., 1989; Heyer et al., 1990; Haddad & Sazima, 1992; Guix et al., 1994; Rossa-Feres & Jim, 1996). Há também uma expectativa de que os estudos citogenéticos (e.g., Kasahara et al., 1996; Kasahara & Haddad, 1997; Amaral et al., 2000; Lourenço et al., 2000; Busin et al., 2001) e moleculares (e.g., Baldissera, 2001), estes ainda em seu início, em muito contribuirão para uma compreensão mais precisa sobre a biodiversidade dos anfíbios no Estado de São Paulo e no Brasil.

Embora o Estado de São Paulo apresente uma elevada diversidade de anfíbios (Haddad, 1998), relativamente poucos pesquisadores têm se dedicado ao estudo do grupo. Para uma compreensão adequada da diversidade dos anfíbios do Estado de São Paulo, o grupo deve ser subdividido nas duas ordens representadas no Estado: Ordem Anura (sapos, rãs e pererecas) e Ordem Gymnophiona (cobras-cegas). Os anuros correspondem ao grupo mais diversificado e conhecido. Já os Gymnophiona, em função de seus hábitos criptobióticos (vivem geralmente em galerias subterrâneas escavadas), são pobremente conhecidos em todos os seus aspectos, inclusive em relação à sua biodiversidade. A Ordem Caudata (salamandras), terceiro grupo de formas atuais de anfíbios, não se encontra representada nos ecossistemas do Estado de São Paulo.

Atualmente são conhecidas cerca de 180 espécies de anfíbios anuros no Estado de São Paulo, o que corresponde a aproximadamente 35% das espécies conhecidas para o Brasil e cerca de 5% da diversidade mundial de anfíbios (Haddad, 1998). Esta elevada riqueza em espécies é provavelmente resultado da extensa faixa florestal, conhecida como Mata Atlântica, que originalmente cobria o Estado, bem como da existência de uma ampla gama de outros ecossistemas. As florestas ombrófilas densas e mistas concentram o maior número de espécies, não só em função de sua maior pluviosidade (ecossistemas úmidos propiciam uma ampla gama de microambientes que podem ser explorados pelos anuros, gerando elevada diversidade), mas também em função do terreno acidentado da Serra do Mar e Serra da Mantiqueira, que ocasiona isolamento geográfico entre as populações e endemismos. As florestas estacionais semi-deciduais (matas de planalto) e os cerrados apresentam biodiversidade menor que aquela das florestas ombrófilas densas e mistas. Os pontos acidentados (serras e cuestas), cobertos por florestas estacionais semi-deciduais, apresentam maior riqueza de espécies de anuros que as áreas planas cobertas pelo mesmo tipo de vegetação.

           

Os manguezais e dunas são ecossistemas pobres em anfíbios, como conseqüência de sua elevada salinidade, que impede o desenvolvimento larvário adequado e a sobrevivência dos adultos da grande maioria das espécies. Para os campos de altitude tem sido verificada a ocorrência de espécies de ampla distribuição, juntamente com espécies endêmicas. No entanto, muito pouco foi feito em termos de levantamento de espécies neste tipo de ambiente, bem como nos ecossistemas de campos rupestres e florestas estacionais deciduais, não sendo possível fazer qualquer generalização acerca da riqueza de espécies de anfíbios destes ambientes. Para o ecossistema de restingas existem alguns levantamentos; no entanto, geralmente não tem sido feita uma distinção entre as composições faunísticas das matas de restinga e das matas de encosta (= florestas ombrófilas densas). Para estes dois ecossistemas o que se tem muitas vezes é uma única lista de espécies. As matas de restinga são muito ricas em espécies, sendo que diversas das espécies da floresta ombrófila densa de encosta colonizam os ambientes de restinga e vice-versa. No entanto, determinadas espécies das baixadas não têm sido observadas nas encostas e vice-versa, o que sugere a existência de especializações a esses ecossistemas.

      

As ilhas oceânicas representam locais especiais onde a probabilidade de encontro de espécies endêmicas e ainda não descritas é elevada. Como a água salgada representa uma forte barreira à migração dos anfíbios, seria esperado que populações de anuros que estejam há muito tempo em ilhas isoladas do continente pelo mar, tenham se diferenciado em espécies plenas.

           

No Estado de São Paulo dezenas de espécies novas, ainda não descritas, têm sido identificadas em anos recentes (Haddad, 1998). Com o aumento no esforço dos trabalhos de levantamento faunístico de campo, este número certamento irá crescer muito, talvez triplicar (Haddad, 1998). É possível que a diversidade de anuros em São Paulo atinja cerca de 250 espécies, mas para se chegar a um número próximo da realidade é necessária a ampliação de áreas de amostragem, de forma a se cobrir o maior número possível de formações representadas em São Paulo. É importante ressaltar que as estimativas atuais baseiam-se principalmente em morfologia e características físicas das vocalizações. O emprego de técnicas citogenéticas e moleculares poderá revelar a existência de espécies crípticas, de forma similar ao que tem sido observado para outros grupos de vertebrados, como por exemplo pequenos mamíferos (referências em Patton et al., 1997).

           

Os anfíbios são o grupo que enfrenta os mais graves problemas provocados pelo uso intensivo e não sustentado dos recursos naturais. Algumas espécies provavelmente endêmicas, que só eram conhecidas para o Estado de São Paulo, estão desaparecidas e talvez estejam extintas; ao mesmo tempo, diversas espécies de anuros parecem estar sofrendo declínios populacionais no Estado de São Paulo, bem como em outras regiões de Mata Atlântica (Haddad, 1998). Em alguns casos, o declínio parece ser decorrente da redução da cobertura vegetal, ocasionada por desmatamentos; em outros casos as razões dos declínios populacionais e extinções locais são desconhecidas, pois têm ocorrido mesmo em ambientes aparentemente inalterados (Haddad & Sazima, 1992; Haddad, 1998). Assim, em alguns casos, praticamente se desconhece os fatores que têm acarretado os declínios populacionais de anuros, havendo apenas especulações acerca de possíveis explicações (Heyer et al., 1988; 1990; Weygoldt, 1989; Haddad & Sazima, 1992).

           

De uma maneira geral, em conseqüência dos desmatamentos no Estado de São Paulo, as espécies de anuros de áreas mais abertas, como aquelas originalmente cobertas por cerrados, têm expandido geograficamente os seus limites, em detrimento das espécies de mata. Ao mesmo tempo, algumas espécies de mata, que ocorrem em clareiras naturais, se adaptaram às novas condições dos ambientes abertos. Infelizmente, no entanto, a regra não é essa, pois diversas espécies de anuros com modos reprodutivos especializados e adaptadas a microambientes específicos, que só ocorrem nas matas, são automaticamente eliminadas com os desmatamentos. Isto faz dos anuros um execelente grupo de espécies bioindicadoras de qualidade ambiental e integridade de ecossistemas (e.g., Szaro et al., 1988).

           

É muito provável que diversas espécies de anuros do Estado de São Paulo tenham sindo extintas antes que um especialista pudesse ter acesso a alguns exemplares. Aparentemente, a vulnerabilidade de diversas espécies é decorrente do seu elevado grau de endemismo (o que é mais característico para as formas da Mata Atlântica; veja Lynch, 1979), bem como dos seus modos reprodutivos especializados (o que é mais notório para os anuros de florestas úmidas; veja Duellman & Trueb, 1986). Atualmente são conhecidos 36 modos reprodutivos para os anuros do mundo (Lutz, 1948; Duellman & Trueb, 1986; Haddad & Sazima, 1992; Weygoldt & Silva, 1992; Lawson, 1993; Haddad & Hödl, 1997; Hadad & Pombal, 1998). Somente a Mata Atlântica concentra 22 modos; sete destes só conhecidos para esse ecossistema. No Estado de São Paulo podemos reconhecer um total de 20 modos reprodutivos, o que equivale a cerca de 55% dos modos reprodutivos atualmente conhecidos para os anuros do mundo. Isso reflete o elevado número de microambientes disponíveis à reprodução dos anuros nos diferentes ecossistemas do Estado de São Paulo, bem como uma história evolutiva rica em diferentes grupos filogenéticos, capazes de explorar os diferentes recursos disponíveis.

           

Cerca de 17% das espécies de anuros do Estado de São Paulo são endêmicas (ocorrem em uma área restrita do Estado, como por exemplo um segmento de serra). Em alguns casos é possível que, com o aumento das amostragens, descubra-se que uma determinada espécie ocorra em outros locais, dentro e/ou fora do Estado, portanto deixando de ser considerada endêmica. Por outro lado, este fator deverá ser compensado com descrições de novas espécies consideradas endêmicas. Pouco realista é a porcentagem de endemismos para os Gymnophiona. Três de um total de sete espécies conhecidas para o Estado de São Paulo (43%), são consideradas endêmicas de acordo com o nível atual de conhecimento. A dificuldade de coleta destes anfíbios deve estar gerando este padrão elevado de endemismos, visto que para algumas espécies só se conhece um exemplar (o holótipo).

           

Dentro deste panorama previamente apresentado, há a necessidade de um entendimento melhor acerca da diversidade dos anfíbios no Estado de São Paulo, o que é uma situação geral para quase toda a região neotropical. Restringimos o nosso compromisso de trabalho ao grupo dos anuros, em virtude da ausência de urodelos em São Paulo e da dificuldade em se fazer levantamentos de Gymnophiona. Com o aprofundamento dos levantamentos em diferentes pontos e com a utilização de diferentes técnicas, em conjunto com os estudos morfológicos, acreditamos que poderemos nos aproximar de um número mais realista de anuros que ocorrem em São Paulo.

 

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