PARA SABER MAIS

Geologia Ambiental e Geologia de Engenharia

parte de texto disponível no site: http://www.igce.unesp.br/igce/aplicada/texto02.html

 

O objetivo principal de contribuir para a melhoria do ensino de graduação nas áreas de Geologia Ambiental e de Geologia de Engenharia impõe a necessidade de reflexões quanto aos conceitos destas áreas.

Afinal, o que é "Geologia Ambiental"? É sinônimo de "Geologia de Engenharia"? É um ramo das Geociências que tem desenvolvimento pautado em "modismo" e/ou "oportunismo"?

Qual a principal razão para o desenvolvimento da Geologia Ambiental, assim como da vertente ambiental da Geologia de Engenharia, no Brasil? Uma séria restrição do mercado de trabalho em áreas tradicionais (mineração, petróleo, grandes obras) ou a premente necessidade em atender novas demandas sociais?

Com vistas ao processo ensino-aprendizado, o que há de comum entre a Geologia Ambiental e a Geologia de Engenharia? Na definição do conteúdo programático dessas duas disciplinas, que temas destinar a cada uma delas?

Tais questões, sobre as quais certamente não há consenso entre os profissionais que atuam nas áreas referidas, são significativamente complexas. Em razão desta complexidade - e especialmente diante da impossibilidade de apresentação de opiniões que representem posições acabadas - optamos por apresentar, neste item, algumas considerações que nortearam a própria elaboração destas "Orientações".

Surge, de pronto, o primeiro aspecto: aplicação do conhecimento geológico. Ambas, a Geologia Ambiental e a Geologia de Engenharia, são Geologia Aplicada, e portanto, se propõem a aplicar o conhecimento geológico para a solução de problemas.

Esta é, certamente, a característica mais marcante e mais notável destas duas áreas. Obviamente, o processo ensino-aprendizado deve considerar a significativa importância deste aspecto.

Os conceitos mais difundidos da Geologia Ambiental refletem claramente a questão da aplicação do conhecimento geológico para a solução de problemas. Vejamos alguns exemplos:

COATES (op. cit.), aponta os principais campos da Geologia Ambiental:

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Principais campos da Geologia Ambiental. (COATES, op. cit., Pg. 8, Fig. 1-1).

Os vários conceitos anteriormente apresentados sobre a Geologia Ambiental constituem visões específicas de autores de língua inglesa que representam uma certa vivência prática, cuja dimensão, entretanto, não está explicitada nos respectivos livros.

A nível mundial, a International Association of Engineering Geology - IAEG - apresenta um conceito de Geologia de Engenharia que corresponde a uma dimensão maior uma vez que, para ser redigido e aprovado em seus estatutos, levou em conta as opiniões de profissionais dos vários países membros: "Geologia de Engenharia é a ciência dedicada à investigação, estudo e solução de problemas de Engenharia e meio ambiente, decorrentes da interação entre a Geologia e os trabalhos e atividades do homem, bem como à previsão e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparadoras de acidentes geológicos" (IAEG, 1992. Statutes. Newsletter, n. 19, Paris, dez/92).

Entretanto, procurar compatibilizar as diversas opiniões e estabelecer conceitos de aceitação universal não constitui uma tarefa conseqüente. O que importa é entender as diversas visões, ou seja, compreender suas relações com a vivência prática que lhes deram origem. Portanto, é fundamental conhecer a história brasileira desse campo da Geologia.

No Brasil, a prática sistemática da Geologia Aplicada, com formação de uma "escola", nasceu nos anos 30 no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. - IPT - fortemente ligada à construção civil (materiais de construção), mas com alguns trabalhos dedicados a processos de dinâmica superficial (boçorocas, escorregamentos), trabalhos esses que hoje seriam classificados como ambientais. Em 1967 foi criada a primeira entidade da área - a Associação Paulista de Geologia Aplicada (APGA) - transformada em ABGE em 1974, por ocasião do 2º Congresso Internacional de Geologia de Engenharia, realizado em São Paulo.

Em 1968, no primeiro evento realizado pela APGA, destaca-se o número significativo de trabalhos sobre estabilidade de encostas naturais no Rio de Janeiro, ao lado de trabalhos sobre obras civis, especialmente barragens.

A consolidação da Geologia Aplicada no Brasil se deu nas décadas de 60 e 70, em razão de suas atividades no projeto e construção de barragens e obras viárias de grande porte. Nos anos 80, ao mesmo tempo em que há forte desaceleração da construção de grandes obras de engenharia, crescem as preocupações com os impactos ambientais provocando uma intensificação dos trabalhos de Geologia Aplicada, cuja demanda é estimulada por determinações legais como a Lei 6766/79 (Lei Lehmann) e as que estabelecem a exigência de estudos de impacto ambiental (EIA-RIMA), promulgadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama.

Nesse período, dado o caráter multidisciplinar desses trabalhos, a Geologia coloca-se ao lado de outras áreas científicas, adquirindo a denominação de Geologia Ambiental.

Entretanto, a própria Geologia de Engenharia também se coloca neste contexto, aumentando significativamente sua participação nas questões ambientais, trazendo consigo todo seu acervo científico-tecnológico acumulado em suas atividades de Engenharia.

Discorrendo sobre a base científica, os campos de atuação e o desenvolvimento da Geologia de Engenharia no Brasil, BITAR, O.Y. (Coord.) et al. (1995. Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. São Paulo: Publ. ABGE/IPT. Série Meio Ambiente), recorrem à ilustração apresentada por SANTOS, A.R.; PRANDINI, F.L. & OLIVEIRA, A.M.S. (1990, Limites ambientais do desenvolvimento: geociências aplicadas, uma abordagem tecnológica da biosfera. São Paulo: ABGE. Artigo Técnico), para inserir a Geologia de Engenharia no campo da Geotecnia (A formação do campo da Geotecnia. Modificado de SANTOS, A.R.; PRANDINI, F.L. & OLIVEIRA, A.M.S. (op. cit.), in BITAR, O.Y. (Coord.) et al. (op. cit), Pg 8, Fig.3).

 

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