DIVERSIDADE DE ANFÍBIOS ANUROS

DO ESTADO DE SÃO PAULO

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Subprojeto 2


 

Biodiversidade de Anfíbios Anuros da Região Noroeste do Estado de São Paulo

Denise de Cerqueira Rossa Feres (Depto. Zoologia e Botânica, UNESP/São José do Rio Preto)

 

 

RESUMO

Com a constante degradação ambiental, vários hábitats naturais estão sendo destruídos e, com isso, muito da biodiversidade está sendo perdida antes de ao menos podermos conhecê-la. Apesar do Brasil abrigar a maior biodiversidade de anfíbios do planeta e do Estado de São Paulo abrigar cerca de 35% da anurofauna brasileira, com 17% de endemismo, informações sobre história natural ainda são desconhecidas para a maioria das espécies brasileiras. Inventários de fauna e estudos de história natural fornecem a base de conhecimentos necessária e imprescindível para trabalhos de conservação ambiental e para a elaboração de hipóteses e testes em ecologia de populações e de comunidades. Apesar do alto grau de degradação ambiental, cerca de 22 espécies já foram registradas na região noroeste do Estado de São Paulo. No entanto, nenhum estudo de levantamento da anurofauna foi ainda realizado nessa região. Assim, o presente estudo tem como objetivo construir uma base de dados sobre a biodiversidade de anuros do noroeste do Estado de São Paulo, realizando um inventário e determinando a distribuição espacial, o hábitat e o microhábitat das espécies de anuros dessa região.

 

1 - INTRODUÇÃO

Atualmente são conhecidas no mundo entre 4000 e 5000 espécies de anfíbios anuros (Stebbins & Cohen, 1995; Wilson, 1997), sendo que cerca de 44% delas ocorrem na América tropical (Duellman, 1988). O Brasil é o país com a maior biodiversidade de anfíbios do planeta, com mais de 600 espécies de anuros. Dessas espécies, 60% são endêmicas, o que enfatiza a necessidade de sua preservação (Mittermeier et al., 1992; Feio et al., 1998). No Estado de São Paulo, são encontrados representantes de duas ordens de anfíbios: Anura e Gymnophiona. A ordem Anura é muito mais abundante, com cerca de 180 espécies descritas no Estado de São Paulo, correspondendo a 35% da diversidade brasileira e 5% da diversidade mundial. A ordem Caudata (salamandras) não é encontrada no sudeste do Brasil e a única espécie brasileira, Bolitoglossa altamazonica, está restrita à Amazônia (Feio et al., 1998; Haddad, 1998).

Os anfíbios apresentam ciclo de vida complexo e exibem a maior variedade de modos reprodutivos e de história da vida que qualquer outro grupo de vertebrados (Duellman & Trueb, 1986; Pough et al., 1999). Diversos fatores ambientais podem afetar o tamanho das populações de organismos, mas características específicas dos anfíbios, como permeabilidade da pele e ciclo de vida dependente tanto do ambiente aquático quanto do terrestre, tornam esses vertebrados terrestres mais vulneráveis às variações ambientais. Conseqüentemente, a redução da população de anfíbios de uma determinada região é considerada um bioindicador da qualidade do ambiente (Rabb, 1990; Stebbins & Cohen, 1995; Feio et al., 1998). Recentemente, vários estudos têm detectado um declínio mundial nas populações de anfíbios (Rabb, 1990; Vial, 1991). Os principais fatores que podem estar originando a diminuição das populações de anfíbios são: chuva ácida, decorrente da liberação de óxidos de nitrogênio e de enxofre pela queima de combustíveis fósseis, que altera o pH dos rios e lagos, afetando o desenvolvimento dos ovos; aumento da radiação ultravioleta, decorrente da destruição da camada de ozônio, que também afeta o desenvolvimento dos ovos; e o desmatamento, que  ocasiona a redução da cobertura vegetal, eliminando os microambientes específicos dos anfíbios, diminuindo a taxa de indivíduos nas populações (Rabb, 1990; Stebbins & Cohen, 1995; Haddad, 1998; Pough et al., 1999) .

Por outro lado, segundo Hanken (1999), apesar do declínio das populações e espécies de anfíbios no planeta, muitas espécies novas estão sendo descritas. Esta proliferação de novas espécies reflete três aspectos: o primeiro é que vários lugares poucos conhecidos estão sendo mais explorados; o segundo está relacionado à aplicação da genética e da biologia molecular na análise sistemática e taxonômica, que tem permitido o reconhecimento de espécies crípticas; o terceiro aspecto, que tem originado vários debates entre taxonomistas, é a mudança nas definições do conceito de espécie, com base na metodologia filogenética e em conceitos evolutivos.

Assim, embora o número de espécies de anfíbios esteja aumentando, é importante ressaltar que o número de indivíduos (biomassa) está diminuindo cada vez mais, com o aumento das degradações ambientais causadas pela espécie humana. A preservação, principalmente em um ecossistema ameaçado pela ação humana, é de extrema importância para manutenção da diversidade dos animais que alí vivem (Marques et al., 2001).

Apesar do Brasil abrigar a maior biodiversidade de anfíbios do planeta e de 17% das espécies do Estado de São Paulo serem endêmicas, informações sobre história natural ainda são desconhecidas para a maioria das espécies brasileiras (Haddad & Sazima, 1992; Haddad, 1998). Estudos de história natural fornecem a base de conhecimentos necessária e imprescindível para trabalhos de conservação ambiental, de preservação de espécies e para a elaboração de testes e teorias sobre populações e comunidades (Scott & Campbell, 1982; Greene, 1986, 1994). A região noroeste do Estado de São Paulo sofreu intenso processo de desmatamento, originado por atividades agro-pastoris, restando hoje apenas pequenos fragmentos da vegetação original de mata latifoliada que recobria a região. O clima da região noroeste do Estado de São Paulo é caracterizado por pronunciada estação seca, que recebe apenas 15% da precipitação total anual (Barcha & Arid, 1971) e pela imprevisibilidade do início da estação chuvosa. Além disso, a grande maioria dos ambientes adequados para a reprodução de anuros nessa região é constituído por corpos de água temporária que, como conseqüência do clima, tem sua época de preenchimento e duração variáveis ano a ano (Rossa-Feres, 1997). Apesar disso, cerca de 22 espécies de anuros já foram registradas nessa região do Estado (Vizotto, 1967; Cais, 1992; Rossa-Feres, 1997). Somente em um açude temporário em Nova Itapirema, SP, foram registradas 17 espécies de anuros (Rossa-Feres, 1997). Portanto, o presente estudo tem como objetivo construir uma base de dados sobre a biodiversidade de anuros da região noroeste do Estado de São Paulo, realizando o inventário e determinando a distribuição espacial, o hábitat e o microhábitat das espécies de anuros dessa região.   

 

 

2 - OBJETIVOS

           

2.1 - Objetivos Gerais:

 

Realizar o levantamento extensivo da biodiversidade de anuros da região noroeste do Estado de São Paulo, em  três diferentes áreas:

 

1. Região de Nova Itapirema, onde será realizada uma análise quantitativa, determinando-se além da riqueza, a abundância de cada espécie.

 

2. Região de Icém (divisa com Minas Gerais), onde será efetuado um levantamento da riqueza de espécies e dos tipos de hábitats utilizados.

 

3. Região de Santa Fé do Sul (divisa com Mato Grosso do Sul), onde será efetuado um levantamento da riqueza de espécies e dos tipos de hábitats utilizados.

 

2.2 - Objetivos Específicos:

 

2.2.1. Na região de Nova Itapirema:

 

- Determinar a riqueza e a abundância de espécies em cada corpo d’água e na área total.

 

- Caracterizar o uso dos corpos d’água, através da determinação do sítio de vocalização dos machos de cada espécie.

2.2.2. Nas três áreas:

 

- Determinar a riqueza de espécies.

 

- Caracterizar os tipos de corpos d’água mais favoráveis à ocorrência e reprodução de anuros.

 

2.2.3. Organizar, informatizar e ampliar a Coleção Científica (DZSJRP) do Departamento de Zoologia e Botânica da UNESP, Câmpus de São José do Rio Preto, SP.

 

 

3 – JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

 

O conhecimento dos componentes animais e vegetais de um ambiente ameaçado por ações antrópicas, evidenciando sua diversidade biológica, é um importante passo para a elaboração de projetos de preservação e conservação (Marques et al., 2001). O crescimento explosivo da população humana, aumentando a degradação do ambiente em velocidades alarmantes, e a perda da diversidade pela extinção de hábitats naturais  tem levado à urgência na preservação da diversidade biológica ainda existente no mundo. É preciso adquirir conhecimento para elaboração de uma política sábia de conservação e de desenvolvimento (Wilson, 1997).

 

A região noroeste do Estado de São Paulo apresenta, ao mesmo tempo, um alto grau de degradação ambiental e um vazio de conhecimento sobre sua fauna. Nenhum trabalho de levantamento da fauna de anuros foi feito nessa região. Os únicos trabalhos existentes envolvem estudos de desenvolvimento (Vizzoto, 1967; Cais, 1982), de comportamento (Cais, 1992; Rossa-Feres, Menin & Izzo, 1999) e de estrutura de comunidades de anuros (Rossa-Feres, 1997; Rossa-Feres & Jim, 2001).  O projeto presentemente proposto vem contribuir para o estudo da biodiversidade do Estado de São Paulo, com o levantamento da anurofauna de local intensamente afetado por atividades humanas, determinando, além da composição de espécies, o uso de hábitat e de microhábitat por cada espécie. Essas informações constituem uma base de conhecimentos necessária e imprescindível para futuros estudos em ecologia de populações e de comunidades e para estudos em conservação e manejo.

 

 

4 – BIBLIOGRAFIA CITADA

 

Barcha, S. F. & Arid, F. M. 1971. Estudo da evapotranspiração na região norte-ocidental do Estado de São Paulo. Revista de Ciências da Faculdade de Ciências e Letras. Votuporanga, SP. (1): 94-122.

 

Cais, A. 1982. Aspectos de biologia e ontogênese de Pseudis paradoxus (Linné, 1758) (Amphibia – Pseudidae). Dissertação de Mestrado. UNESP de Rio Claro. SP. Brasil. 92p.

 

Cais, A. 1992. Aspectos biológicos e status taxonômico de Hyla biobeba Bokerman & Sazima, 1973 (Amphibia – Anura). Tese de Doutoramento. UNESP de Rio Claro. SP. Brasil. 176p.

 

Crump, M. L. & Scott Jr., N. J. 1994. Visual encounter surveys. In: Heyer, W. R., Donnelly, M. A., McDiarmid, R. W., Hayek, L. A. C., Foster, M. S. (Eds). Measuring and Monitoring Biological Diversity – Standard Methods for Amphibians. Smithsonian Institution Press. Washington D. C., p. 84-92.

Duellman, W. E. 1988. Patterns of species diversity in anuran amphibians in the American Tropics. Annais of Missouri Botanical Garden, 75: 79-104.

Duellman, W. E. & Trueb, L. 1986. Biology of Amphibians. McGraw-Hill Book Company, New York, 670p.

Feio, R. N.; Braga, U. M. L.; Wiederhecker, H. & Santos, P. S. 1998. Anfíbios do Parque Estadual do Rio Doce (Minas Gerais). Universidade Federal de Viçosa, Instituto Estadual de Florestas, MG, 32p.

 

Greene, H. W. 1986. Natural history and evolutionary biology. In: Feder, M. E. Lauder, G. V (Eds). Predator – Prey Relationships. The University of Chicago Press. Chicago and London. 99-108.

Greene, H. W. 1994. Sistematics and natural history, foundations for understanding and conserving biodiversity. American Zoologist, 34: 48-56.

 

Haddad, C. F. B. 1998. Biodiversidade dos anfíbios no Estado de São Paulo. In: Joly, C. A., Bicudo, C. E. M. (Org.) Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. 6: Vertebrados: p. 15-26.

 

Haddad, C. F. B. & Sazima, I. 1992. Anfíbios anuros da Serra do Japi. In: Morellato, L. P. C. (Org). História Natural da Serra do Japi. Editora da UNICAMP/FAPESP. Campinas, SP. 3: 188-211.

Hanken, J. 1999. Why are there so many new amphibian species when amphibians are declining? Trends in Ecology and Evolution, 14: 7-8.

Inger, R. F. 1994 Microhabitat description. In: Heyer, W. R., Donnelly, M. A., McDiarmid, R. W., Hayek, L. A. C., Foster, M. S. (Eds). Measuring and Monitoring Biological Diversity – Standard Methods for Amphibians. Smithsonian Institution Press. Washington D. C., pp. 60-66.

 

Jim, J. 1980. Aspectos ecológicos dos anfíbios registrados na região de Botucatu, São Paulo (Amphibia, Anura). Tese de Doutoramento. Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, SP. 322p.

 

Krebs, C. J. 1999. Ecological Methodology. Addison Wesley Longman, Inc, Menlo Park, CA. 620p.

Marques, O. A. V., Eterovic, A. & Sazima, I. 2001. Serpentes da Mata Atlântica. Guia Ilustrado para a Serra do Mar. Holos Editora, Ribeirão Preto, SP, 184p. 

 

McDiarmid, R. W. 1994. Data standards. In: Heyer, W. R., Donnelly, M. A., McDiarmid, R. W., Hayek, L. A. C., Foster, M. S. (Eds). Measuring and Monitoring Biological Diversity – Standard Methods for Amphibians. Smithsonian Institution Press. Washington, D. C.,  pp.57-60.

Mittermeier, R. A.; Werner, T.; Ayres, J. M. & Fonseca, G. A. B. 1992. O país da megadiversidade. Ciência Hoje, 14(81): 20-27.

 

Pough, F. H.; Heiser, J. B. & McFarland, W. N. 1999. A Vida dos Vertebrados. 2º Edição. Atheneu Editora, São Paulo, 798 p.

Rabb, G. B. 1990. Declining amphibian population. Species, (13-14): 33-34

 

Rossa-Feres, D. de C. 1997. Ecologia de uma comunidade de anfíbios anuros da região Noroeste do Estado de São Paulo: microhabitat, sazonalidade, dieta e nicho multidimensional. Tese de Doutoramento. Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP. 178p.

 

Rossa-Feres, D. de C. & Jim, J. 2001. Similaridade no sítio de vocalização em uma comunidade de anfíbios anuros na região noroeste do Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 18(2): 439-454.

Rossa-Feres, D. de C.; Menin, M. & Izzo, T. 1999. Ocorrência sazonal e comportamento territorial de Leptodactylus fuscus (Anura, Leptodactylidae). Iheringia, (87): 93-100.

Scott Jr, N. J. & Campbell, H. W. 1982. A chronological bibliography, the history and status of studies of herpetological communities, and suggestions for future research. In: Scott Jr., N. J. (Ed.) . Herpetological communities, Washington, D. C., United States Departament of the Interior Wildlife Research Report, (13): 39-47.

Stebbins, R. C. & Cohen, N. W. 1995. A Natural History of Amphibians. Princeton University Press. New Jersey. 316p.

Vial, J. L. 1991. Declining amphibian populations task force. Species (16): 47-48.

 

Vizotto, L. D. 1967. Desenvolvimento de anuros da região norte-ocidental do Estado de São Paulo. Tese de Doutoramento. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Universidade de São Paulo, SP. 166p.

 

Wilson, E. O. 1997. A situação atual da diversidade biológica. In: Wilson E. O. (Ed.)  Biodiversidade. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 3-24