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ARTIGOS: Bioinformática, educação, pesquisa




O que é Bioinformática? Algumas iniciativas pensando no Ensino Médio e Ensino Superior

Muitas vezes, quando se trabalha com Ciência, explicar para as pessoas o que você faz é muito difícil, não só para os amigos e familiares, mas também para pesquisadores que não trabalham na mesma área que você. Geralmente a visão que se tem é que Ciência é algo muito difícil e que não é possível ser feita por "qualquer um". Recentemente, procurando por artigos sobre o ensino de Bioinformática, encontrei um título que me chamou a atenção: "Explain Bioinformatics to Your Grandmother" (publicado na revista PLOS Computational Biology no final de 2013), que significa "Ensine Bioinformática para a Sua Avó". Na conclusão, as autoras lembram uma frase de Albert Einstein: "Você não entende de verdade alguma coisa, a não ser que você seja capaz de explicá-la à sua avó".

Saber explicar para a comunidade leiga o que você faz é importantíssimo, especialmente na pesquisa, já que muitos dos investimentos são oriundos de impostos. Além disso, mostrar para os jovens quão seu trabalho é magnífico e qual a contribuição para o desenvolvimento da Ciência pode incentivar a geração de novos talentos, que inclui os jovens pesquisadores.

A Bioinformática não se trata somente de Biologia e Informática, mas afinal, o que é Bioinformática?. Atualmente, a Biologia não é baseada apenas em experimentos de laboratório, mas também em informação. Aliás, muita informação! Sequências de DNA, RNA e proteínas são geradas o tempo todo, as quais devem ser armazenadas em bancos de dados (cada vez maiores) e, além disso, toda a informação gerada deve ser acessada e "preparada" para poder ser interpretada, podendo levar a conclusões bastante relevantes para o avanço da Ciência. A Bioinformática, para quem não sabe, não surgiu ontem: uma publicação na Nature Genetics, em 2000, sugere seu início na década de 1960, com a necessidade de armazenar informações sobre sequências de proteínas, em bancos de dados computacionais.constitui um campo muito mais interdisciplinar, que usa conceitos da Computação, Ciência da Informação, Matemática, Estatística, Física, Química, e tem grande impacto em áreas como a Medicina, Agricultura e Indústria. Com o aumento na quantidade e complexidade de informações biológicas geradas, o que é atualmente chamado de "Big Data", a Educação no Ensino Superior deve se preocupar com o ensino de Ciências visando a manipulação dessas informações. Iniciativas no exterior já levam o assunto para o Ensino Médio ("Highschool") – logo, o Brasil também terá iniciativas neste sentido

Pensando na ideia de difundir a Bioinformática para encorajar novos talentos a trabalharem na área e também na introdução de seus conceitos ao Ensino Médio, no Brasil, gostaria de destacar duas iniciativas. A primeira delas voltada para o Ensino Superior é o evento "Dia da Bioinformática", promovido e organizado pela Sustec Jr. Sustentabilidade em Biotecnologia, empresa júnior do curso de Biotecnologia, no Campus de Araras da UFSCar, São Paulo (10 de Abril de 2014). Ele contará com pesquisadores, professores e doutorandos de diversos centros de pesquisa e universidades no Estado de São Paulo, com o objetivo de proporcionar a graduandos e pós-graduandos de qualquer curso relacionado que tenham interesse, uma visão abrangente sobre o tema.

O evento deverá apresentar uma visão mais abrangente do que é a Bioinformática, para que serve e onde pode ser encontrada; o Dr. Felipe Rodrigues da Silva (Embrapa) fará uma apresentação neste sentido. A área recente que envolve Modelagem Computacional na Biotecnologia, a Biologia de Sistemas, será foco da apresentação do Dr. Renato Vicentini (UNICAMP). Temas específicos também serão apresentados, como Metagenômica e Transcriptômica (como a técnica de sequenciamento de RNA) que poderão ser melhor compreendidos nas palestras da Dra. Milene Ferro (UNESP) e da Dra. Michele Claire Breton (Centro de Citricultura de Cordeirópolis).

A segunda iniciativa interessante, mas fora do país, encontrei voltada para o Ensino Médio. Também recentemente publicado na revista PLOS Computational Biology (janeiro de 2014), o portal denominado "Bioinformática na Escola" (http://bioinformatica-na-escola.org/) visa introduzir aos alunos conceitos sobre Genômica, Bioinformática e Biologia Molecular, já que muitos dos debates e produtos presentes na sociedade (como transgênicos) são resultados de pesquisas nestas áreas. Além disso, o portal permite acessar informações de uma forma familiar aos estudantes de hoje (por ser online) e também funciona como uma ajuda para os professores.

As perguntas que fica, em relação ao Ensino Médio no Brasil: será que as escolas públicas estão preparadas para aplicar tecnologias deste tipo no Ensino Médio? Embora o computador e a internet estejam cada vez mais acessíveis, será que a maioria dos alunos já tem recursos para fazer exercícios em casa (no caso de exercícios realizados no computador)? Qual seria a maneira mais adequada de levar os conteúdos de Bioinformática, utilizando o computador ou em material impresso? Todos os pré-requisitos em termos de conteúdo em nosso país, para proporcionar a introdução de Bioinformática, são atingidos tendo em vista o conteúdo obrigatório atual? Ainda, quais seriam os conteúdos em Bioinformática compatíveis com o atual programa do Ensino Médio?

Como aluno de licenciatura e apaixonado pela pesquisa, tenho buscado ideias, conversado com docentes na Universidade e professores de Ensino Médio, além de estar sempre buscando iniciativas e projetos fora do país. Desconheço ainda iniciativas deste tipo no Brasil, mas espero que logo parcerias entre a Universidade e o Ensino Médio sejam feitas, atitudes sejam tomadas e que estudantes tenham vontade de entrar na Universidade para trabalhar com Bioinformática. O primeiro passo poderia partir da Universidade, levando a Bioinformática para o Ensino Médio, através de projetos de pesquisa que interajam com a sociedade (projetos de extensão). Algo que me motiva muito a fomentar que a Bioinformática seja vista com precocidade pelos estudantes é ver a mesma sendo diariamente aplicada nos trabalhos e ter certeza de que com ela é muito mais fácil desenvolvê-los (manipular informações e gerar resultados diariamente). Caso os pesquisadores já tivessem, em sua formação, conceitos que ao menos integrassem Biologia e Computação, estaríamos abertos a importantíssima interdisciplinaridade que é esperada da formação do biólogo.

Renato Augusto Corrêa dos Santos e Gabriela Carolina Mauruto de Oliveira - Sustec Jr. Sustentabilidade em Biotecnologia







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