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ARTIGOS: Tráfico de animais




Tráfico de Animais Silvestres: Um Crime à Biodiversidade.

A diversidade da fauna brasileira é grandiosa: segundo dados da RENCTAS (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), são aproximadamente três mil espécies de vertebrados terrestres e três mil espécies de peixes existentes. O Brasil constitui também o país que possui o maior número de espécies de mamíferos, répteis e anfíbios do planeta, que somadas ultrapassam a marca das mil e quinhentas. Além disso, a cada dia novas espécies animais são descritas.

Apesar de toda a abundante biodiversidade, alguns fatores são cruciais para que seja compreendida sua importância e se tomem medidas visando sua preservação. Os tamanhos de população das espécies são relativamente pequenos, tornando-as frágeis; a caça para a subsistência e para o comércio é grande, sendo que este último movimenta algo em torno de quinze bilhões de dólares no planeta. O Brasil contribui com 15% (quinze por cento) deste valor.

Neste contexto, é importante enfatizarmos o tráfico de animais no planeta, principalmente os silvestres, que constitui uma atividade deletéria para a fauna, levando muitas dessas espécies à extinção. Animais silvestres são aqueles que não podem ser domesticados, que têm como ambientes naturais matas e florestas, e que não podem ser comercializados sem que haja uma autorização. O tráfico da fauna silvestre é o terceiro maior do mundo, depois dos de armas e drogas, contribuindo para a movimentação ilegal de dinheiro e para a marginalização da população envolvida.

Este tráfico, infelizmente, tem origens históricas, da época do descobrimento do Brasil. Os índios utilizavam os animais para a alimentação e também para fabricação de seus adornos, ornamentação, instrumentos e ferramentas pessoais. Apesar da ocorrência da domesticação dos animais, não havia maus-tratos e tampouco uma exploração descontrolada, que pudesse prejudicá-los a ponto de extingui-los.

O começo da exploração comercial ocorreu a partir do contato dos europeus com essa cultura indígena. O deslumbramento dos estrangeiros pela nova terra e pelos animais desconhecidos é evidenciado duas araras e vários papagaios do Novo Mundo para o rei de Portugal, já nas primeiras viagens de retorno ao país, em meados de 1500. Começa nesta época o escambo com os índios. Em 1511, foram levados à Europa 22 periquitos tuins e 15 papagaios e em 1530, 70 aves de penas coloridas foram exportadas. Os animais tornaram-se um símbolo real e de poder.

O motivo do tráfico, àquela época, era principalmente para atender a indústria da moda, ornamentação de salas europeias, chegando a ser registrado caso em que penas de beija-flor foram utilizadas até para enfeitar caixas de bombons, garças e guaras depenadas para a produção de chapéus, além das demais afrontas à biodiversidade, por motivos pouco justificáveis.

Até a década de 60 era comum às lojas e feiras no Brasil comercializarem animais silvestres quando, em 1967, foi criada a Lei de Proteção à Fauna (L. 5.197, 03/01/1967), proibindo a utilização, perseguição, caça ou apanho de animais que vivem naturalmente fora de cativeiro, assim como seus ninhos, abrigos ou criadouros. A partir daí, as pessoas que viviam deste tráfico tornaram-se marginalizadas frente à sociedade, e começa então o tráfico ilegal de animais no Brasil.

O tráfico de animais silvestres é diversificado. Animais são utilizados para atender a colecionadores e zoológicos, nos quais a prioridade são as espécies mais ameaçadas de extinção, pois para eles “quanto mais raro o animal, maior seu valor comercial”. Araras, papagaios, micos e pequenos felinos, como a jaguatirica, são os mais procurados em países como Alemanha, Itália, França, Espanha e EUA, que possuem os principais colecionadores. São também utilizados animais do tráfico para fins científicos, espécies que fornecem substâncias químicas importantes, aquelas que servem de base para a pesquisa, na produção de cosméticos ou de medicamentos. Para estes fins, as espécies mais procuradas são de cobras, aranhas, sapos e insetos. A modalidade que mais incentiva o tráfico é a de animais de “pet-shops”. Devido à grande procura, quase todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas, os preços dependendo da espécie e da quantidade encomendada. Papagaios, araras, aves de gaiola, tartarugas, jabotis e teiús são alguns dos animais mais procurados.

Devido ao tráfico, são retirados do Brasil cerca de 38 milhões de animais a cada ano e a produção de manufaturados a partir desses animais, apesar de incalculável, está estimada em 50 milhões de produtos.

As perdas com o tráfico são lamentáveis. De cada dez animais retirados da natureza, apenas um sobrevive. Não há cuidados durante o transporte, quando grande parte das mortes é ocasionada, além da alimentação dada a eles, sempre de maneira inadequada.

As consequências do tráfico envolvem várias questões ecológicas e ambientais, como a aceleração do processo de extinção e o desequilíbrio dos ecossistemas, além de problemas sociais. O manejo errôneo de animais pode levar à transmissão de doenças aos proprietários, pelo desconhecimento das toxinas que podem ser liberadas por eles, além do comportamento agressivo dos animais, em muitos casos, já que eles não estão acostumados com um ambiente fora de seus habitat naturais.

As apreensões, que ocorrem em sua maioria apenas quando há denúncia, é de apenas 0,45% dos animais e as razões são inúmeras: não há locais apropriados para mantê-los, pois zoológicos e criadouros estão cheios desses animais e os recursos financeiros não são suficientes para alimentar todos (pelo menos, essa é a alegação).

Pesquisa realizada recentemente por alunos do curso de Ciências Biológicas, da UNESP Campus de Rio Claro*, junto a alunos do ensino médio e de graduação da UNESP, mostram que há pouquíssimo conhecimento da fauna silvestre, o que dificulta a ação da população na luta contra o tráfico de animais. Animais silvestres como jabotis e papagaios, para muitos, são considerados animais domésticos.

Nessa pesquisa, foi perguntado aos alunos se eles imaginavam quais os problemas trazidos pelo tráfico. Muitos apontaram danos ao criador, como o perigo de ataque pelos animais silvestres, mas pouquíssimos comentaram sobre o perigo de extinção ou maus-tratos.

Algo interessante observado na pesquisa, no entanto, foi perceber que apesar de deter pouco conhecimento sobre o assunto, esta população jovem sabe que ter animal silvestre em casa é ilegal e concorda com a proibição. Muitos afirmam também a necessidade de uma lei que regulamente o tráfico. Mas é necessário que a população saiba a quem recorrer. Quando o assunto é meio ambiente, a população lembra primeiramente do IBAMA, e foi esta instituição realmente a mais citada quando a questão foi tráfico de animais. Outros órgãos citados foram Polícia Ambiental, e também ONGs, que realmente podem auxiliar no combate, se este for o seu objetivo.

Obter animais silvestres legalmente é possível, e parte da população tem ciência disso, só não faz idéia do preço que pode custar, nem dos critérios para a obtenção. Animais silvestres legalizados chegam a custar R$ 30.000,00 (trinta mil reais), como algumas araras. Antes de tudo, é importantíssimo educar a população, para valorizar e ajudar a preservar a fauna brasileira, pois ela representa nosso país no exterior e constitui uma de nossas maiores riquezas. Fiscalizar é necessário, mas com a denúncia o trabalho torna-se muito mais eficiente. A Linha Verde, para denúncias anônimas ao IBAMA (0800-61-8080), é uma opção LEGAL.

Renato Augusto Corrêa dos Santos, Juliano Aparecido Barbosa, Natália de Oliveira Marin, Edgard Hiromi Kamimura, Diego Simões dos Santos – 3º ano de Ciências Biológicas







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